Ao longo deste estudo
procurámos provar que os Painéis têm múltiplas referências à vida do infante D.
Pedro e àqueles que lhe eram mais próximos, e que o assunto principal deste
conjunto de pinturas evoca a memória do duque de Coimbra.
Para suportar a nossa
proposta avançámos com identificações que nuns casos são inéditas ou que,
noutros casos, já tinham sido afloradas por alguns estudiosos, mas sem grande
profundidade. Estamos a referir a Frei João Álvares, S. João Evangelista, D.
Jaime, infante D. João, Infante Santo, Jean Jouffroy, Pêro de Serpa, Lopo
Fernandes e os pescadores de Buarcos.
Procurámos entender o simbolismo associado a alguns objectos para deles extrair informações complementares:
Vejamos as
personalidades presentes e a sua relação com o infante D. Pedro:
- O próprio, que ocupa o lugar de maior relevo do políptico
- Três filhos (a rainha D. Isabel, o condestável D. Pedro e D. Jaime, futuro cardeal)
- Três irmãos[1] (a duquesa da
Borgonha, D. Isabel, o infante D. João e D. Fernando, o Infante Santo).
- Genro e
neto (D. Afonso V e o príncipe D. João[2]).
- Religiosos (D. Afonso Nogueira e D. Estêvão de Aguiar, que o apoiaram nas acções que o levaram a regente, e Frei João Álvares que foi por si resgatado do cárcere de Fez)
- Militares
(D. Álvaro Vaz de Almada, amigo de longa data com quem celebrou um pacto
segundo o qual nenhum sobreviveria à morte do outro)
- Doutores em leis (Dr. Diogo Afonso Mangancha, que sempre se manifestou a seu favor nas reuniões que o conduziram a regente, e Jean Juffroy, embaixador da Borgonha que expressou perante o rei a sua indignação pelos actos praticados contra a sua família e contra o modo como procederam com os seus restos mortais)
- Outros
(Pêro de Serpa, procurador do concelho de Lisboa, demonstrando activamente
o seu apoio, tanto nas cortes de Torres Novas como nas de Lisboa; Lopo
Fernandes, cidadão de Lisboa que levantou a sua voz a seu favor na reunião
da câmara de Lisboa e os pescadores de Buarcos, presentes ao seu lado em
Alfarrobeira)
Procurámos entender o simbolismo associado a alguns objectos para deles extrair informações complementares:
- A corda e o
acordo: a ideia utilizada não foi inédita, mas o “concorda com nós” já o é, assim como associar o desenho
subjacente que representa um texto no painel do Infante ao acordo
celebrado nas cortes de Lisboa de 1449.
- O
enquadramento de D. Jaime entre a lança e o báculo a simbolizar a evolução
da sua vida de militar a clérigo.
- Os laços que atam as duas metades do barrete de D. Jaime a significarem uma união de algo que estava dividido, o que de facto aconteceu na pessoa desta figura
- O
enquadramento do Infante D. Pedro e D. Álvaro Vaz de Almada entre duas
lanças a mostrá-los como irmãos de armas
- O
simbolismo das boas virtudes associado às pérolas da jóia permitiu-nos
identificar o arcebispo como D. Afonso Nogueira
- O livro
´”ilegível” que nos conduziu a Jean Juffroy porque os seus discursos
também eram “ilegíveis” para o rei uma vez que não o conseguiram
sensibilizar totalmente
- O conjunto
formado pelo caixão e pelo peregrino, que permitiram reforçar a ideia
sobre o tema geral dos Painéis, que entretanto já tinha surgido.
- O livro fechado
no painel do Arcebispo, que depois é aberto no painel do Infante, como que
a indicar que a revelação do significado dos Painéis está exposta no texto
deste livro
- Igualmente
a simbologia da revelação associada a este livro, que a figura santificada
segura, levou-nos até S. João Evangelista o autor do Apocalipse também
conhecido por Livro da Revelação.
Observemos agora as
cenas que vislumbramos nos Painéis:
- Painel do Arcebispo: investidura do infante D. Pedro no cargo de regente em 1439 rodeado de figuras que o apoiaram (D. Álvaro Vaz de Almada, Infante D. João, D. Afonso Nogueira, Dr. Diogo Afonso Mangancha). Esta investidura é dada simbolicamente por S. João Evangelista, celebrado no dia no ano em que se deu aquela tomada de posse. Simultaneamente, e dado o aspecto militar de algumas figuras, está-se a evocar os acontecimentos de Alfarrobeira (D. Álvaro Vaz de Almada, D. Jaime, condestável D. Pedro que não esteve presente por estar no Alentejo e o infante D. João que esteve ausente por já ter falecido)
- Painel do Infante: evocação da memória do infante D. Pedro, estando presentes apenas membros da sua família. O texto do livro aberto está focalizado na ideia do pai: a palavra “pai” está subjacente na primeira linha das duas primeiras páginas. O texto da 1ª página é uma mensagem da rainha sobre si própria e das suas relações com o pai. Como a rainha ocupa a posição mais importante do painel podemos concluir que o “pai”, sucessivamente referido no livro, só pode ser o seu, o infante D. Pedro. Uma frase obtida pelo texto da 2ª página indica-nos que este infante está à nossa direita.
- Painel da Relíquia: o peregrino associado ao caixão vazio, simboliza nada menos do que as sucessivas andanças dos ossos do infante até que encontraram o repouso final na Batalha. Jean Juffroy mostra a sua indignação (ar zangado e desfolha o livro ao contrário), pelo facto dos seus discursos em prol da família do infante D. Pedro não terem sido percebidos, tal como não se percebe (à primeira vista) o texto que mostra no livro aberto. Pêro de Serpa expõe a relíquia de Santo António que o infante trouxe de Pádua, aquando da sua viagem pela Europa.
- Painéis dos
Pescadores e dos Cavaleiros: existe uma interacção entre as únicas figuras
que destoam em cada um destes painéis. Frei João Álvares prostra-se
perante o Infante Santo mostrando a afeição que sempre teve em relação a
D. Fernando, enquanto este vira a sua cabeça numa direcção contrária à dos
outros cavaleiros mostrando assim que, por estar morto, já não deveria
estar naquele local.