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terça-feira, 23 de setembro de 2014

15. SINOPSE

Ao longo deste estudo procurámos provar que os Painéis têm múltiplas referências à vida do infante D. Pedro e àqueles que lhe eram mais próximos, e que o assunto principal deste conjunto de pinturas evoca a memória do duque de Coimbra.
Para suportar a nossa proposta avançámos com identificações que nuns casos são inéditas ou que, noutros casos, já tinham sido afloradas por alguns estudiosos, mas sem grande profundidade. Estamos a referir a Frei João Álvares, S. João Evangelista, D. Jaime, infante D. João, Infante Santo, Jean Jouffroy, Pêro de Serpa, Lopo Fernandes e os pescadores de Buarcos.
Vejamos as personalidades presentes e a sua relação com o infante D. Pedro:
  • O próprio, que ocupa o lugar de maior relevo do políptico
  • Três filhos (a rainha D. Isabel, o condestável D. Pedro e D. Jaime, futuro cardeal)
  • Três irmãos[1] (a duquesa da Borgonha, D. Isabel, o infante D. João e D. Fernando, o Infante Santo).
  • Genro e neto (D. Afonso V e o príncipe D. João[2]).
  • Religiosos (D. Afonso Nogueira e D. Estêvão de Aguiar, que o apoiaram nas acções que o levaram a regente, e Frei João Álvares que foi por si resgatado do cárcere de Fez)
  • Militares (D. Álvaro Vaz de Almada, amigo de longa data com quem celebrou um pacto segundo o qual nenhum sobreviveria à morte do outro)
  • Doutores em leis (Dr. Diogo Afonso Mangancha, que sempre se manifestou a seu favor nas reuniões que o conduziram a regente, e Jean Juffroy, embaixador da Borgonha que expressou perante o rei a sua indignação pelos actos praticados contra a sua família e contra o modo como procederam com os seus restos mortais)
  • Outros (Pêro de Serpa, procurador do concelho de Lisboa, demonstrando activamente o seu apoio, tanto nas cortes de Torres Novas como nas de Lisboa; Lopo Fernandes, cidadão de Lisboa que levantou a sua voz a seu favor na reunião da câmara de Lisboa e os pescadores de Buarcos, presentes ao seu lado em Alfarrobeira)


Procurámos entender o simbolismo associado a alguns objectos para deles extrair informações complementares:

  • A corda e o acordo: a ideia utilizada não foi inédita, mas o “concorda com nós” já o é, assim como associar o desenho subjacente que representa um texto no painel do Infante ao acordo celebrado nas cortes de Lisboa de 1449.
  • O enquadramento de D. Jaime entre a lança e o báculo a simbolizar a evolução da sua vida de militar a clérigo.
  • Os laços que atam as duas metades do barrete de D. Jaime a significarem uma união de algo que estava dividido, o que de facto aconteceu na pessoa desta figura
  • O enquadramento do Infante D. Pedro e D. Álvaro Vaz de Almada entre duas lanças a mostrá-los como irmãos de armas
  • O simbolismo das boas virtudes associado às pérolas da jóia permitiu-nos identificar o arcebispo como D. Afonso Nogueira
  • O livro ´”ilegível” que nos conduziu a Jean Juffroy porque os seus discursos também eram “ilegíveis” para o rei uma vez que não o conseguiram sensibilizar totalmente
  • O conjunto formado pelo caixão e pelo peregrino, que permitiram reforçar a ideia sobre o tema geral dos Painéis, que entretanto já tinha surgido.
  • O livro fechado no painel do Arcebispo, que depois é aberto no painel do Infante, como que a indicar que a revelação do significado dos Painéis está exposta no texto deste livro
  • Igualmente a simbologia da revelação associada a este livro, que a figura santificada segura, levou-nos até S. João Evangelista o autor do Apocalipse também conhecido por Livro da Revelação.

 
Observemos agora as cenas que vislumbramos nos Painéis:

  • Painel do Arcebispo: investidura do infante D. Pedro no cargo de regente em 1439 rodeado de figuras que o apoiaram (D. Álvaro Vaz de Almada, Infante D. João, D. Afonso Nogueira, Dr. Diogo Afonso Mangancha). Esta investidura é dada simbolicamente por S. João Evangelista, celebrado no dia no ano em que se deu aquela tomada de posse. Simultaneamente, e dado o aspecto militar de algumas figuras, está-se a evocar os acontecimentos de Alfarrobeira (D. Álvaro Vaz de Almada, D. Jaime, condestável D. Pedro que não esteve presente por estar no Alentejo e o infante D. João que esteve ausente por já ter falecido)
  • Painel do Infante: evocação da memória do infante D. Pedro, estando presentes apenas membros da sua família. O texto do livro aberto está focalizado na ideia do pai: a palavra “pai” está subjacente na primeira linha das duas primeiras páginas. O texto da 1ª página é uma mensagem da rainha sobre si própria e das suas relações com o pai. Como a rainha ocupa a posição mais importante do painel podemos concluir que o “pai”, sucessivamente referido no livro, só pode ser o seu, o infante D. Pedro. Uma frase obtida pelo texto da 2ª página indica-nos que este infante está à nossa direita.
  • Painel da Relíquia: o peregrino associado ao caixão vazio, simboliza nada menos do que as sucessivas andanças dos ossos do infante até que encontraram o repouso final na Batalha. Jean Juffroy mostra a sua indignação (ar zangado e desfolha o livro ao contrário), pelo facto dos seus discursos em prol da família do infante D. Pedro não terem sido percebidos, tal como não se percebe (à primeira vista) o texto que mostra no livro aberto. Pêro de Serpa expõe a relíquia de Santo António que o infante trouxe de Pádua, aquando da sua viagem pela Europa.
  • Painéis dos Pescadores e dos Cavaleiros: existe uma interacção entre as únicas figuras que destoam em cada um destes painéis. Frei João Álvares prostra-se perante o Infante Santo mostrando a afeição que sempre teve em relação a D. Fernando, enquanto este vira a sua cabeça numa direcção contrária à dos outros cavaleiros mostrando assim que, por estar morto, já não deveria estar naquele local.







[1] Este número aumentará para cinco se considerarmos, como alguns autores defendem, que a figura do chapelão é o rei D. Duarte e que o cavaleiro do primeiro plano do painel dos Cavaleiros é o infante D. Henrique.
[2] Identificação aceite pela maioria dos estudiosos